A formação profissional e a originalidade na oferta de serviços/produtos são determinantes no sucesso de qualquer negócio.
Acredito que as outras grandes cidades do país, assim como o Rio de Janeiro, estejam familiarizadas com aqueles ambulantes que entram nos ônibus oferecendo doces, balas, chocolates, tabuadas, livros de receitas, agulhas, etc. Normalmente, no meu trajeto casa/trabalho/casa, que não dura mais de 45 minutos, entram 4 ou 5 vendedores. Eu nunca compro nada, assim como a maioria dos passageiros.
Hoje entrou no ônibus um músico com um saxofone. Sim, um músico, não um ambulante. Eu, que adoro música, logo tirei os fones do MP3 dos ouvidos e pensei "se esse cara tocar direitinho, darei um trocado". Assim como eu, a maioria dos passageiros prestou atenção nele, o que não acontece com os vendedores. Apenas duas peruas continuaram tagarelando enquanto ele apresentava as músicas e seus autores, e tocava. E o cara tocava bem! Tocou sucessos populares, do tipo Raça Negra, tocou MPB, músicas internacionais de diferentes épocas e até Bach! Ainda permitiu que os passageiros fizessem pedidos (eu pedi New York, New York, do Sinatra).
A platéia, de tão satisfeita com a interrupção ("desculpe incomodar o silêncio da sua viagem..." já ouviram isso?) inusitada e cultural, não esperou nem o final da apresentação para contribuir com o artista. Um passageiro que logo iria descer, chamou o rapaz no fundo do ônibus para dar um trocado, e foi imitado praticamente por TODOS os passageiros. Quando chegou a vez do saxofonista pegar os R$ 2 que resolvi dar, já estava com a mão carregada de cédulas e moedas. Até nota de R$ 10 ele tinha. Diria que 10% dos passageiros costumam comprar com os ambulantes produtos que custam apenas R$ 1, mas estimo que 90% dos passageiros tenha dado algum valor ao músico, e a maioria mais do que R$ 1.
Ao final, quando eu já estava quase em casa, o público aplaudiu e duas moças pediram o telefone para shows.
Viram como a formação profissional e a criatividade na oferta do serviço fizeram diferença no negócio?